terça-feira, 12 de março de 2024

Por que o ciclismo brasileiro é tão precário?

"O que falta no Brasil é união", resposta do "Pé de Chinelo" sobre porque um determinado esporte não vai para frente no Brasil. O dito "Pé de Chinelo", como é chamado por muitos brasileiros numa referência pateticamente ofensiva, foi vencedor em todas as categorias por onde passou, aqui e lá fora, tem 11 vitórias na categoria mais alta e respeitada do planeta, é respeitadíssimo fora do Brasil, e finalmente, continua ganhando provas e campeonatos os mais importantes. Aqui, no Brasil, é "Pé de Chinelo", como os bobos gostam de tirar sarro. Para quem não sabe ainda, no fim deste texto conto quem é.

"O que falta no Brasil é união", diz com toda propriedade todo e qualquer atleta ou esportista que conheça os bastidores dos nossos esportes. Há exceções, sim há, mas a picuinha, o criticar, mal dizer, é regra, o esporte preferido entre os brasileiros. União? Tudo indica que não é nosso esporte predileto. Vamos na base do "nós e os outros", disputa renhida para saber quem é o bom, o gostoso, o melhor, o mais sábio, o mais inteligente, o mais forte... Viramos o país do "Nós e (ou) os outros"?

Brasil não respeita seus bons filhos, os que deixam um legado para o país. São inúmeros os exemplos deste desrespeito nacional. São inúmeros os nomes esquecidos, o que não raro é mais que um desrespeito. Faz um bom tempo escrevi sobre os esquecidos no ciclismo nacional, e me retive no ciclismo para não alongar a perder de vista a história. 
Boa parte destes verdadeiros heróis nacionais, brasileiros, os que foram chegando nas vitórias, na glória, praticamente sem qualquer apoio. Venceram. Aqui raríssimos sabem seus nomes, nem seus títulos, ninguém se interessa; mas no pódio os vitoriosos não são um sujeito com nome, sobrenome e luta, mas passa a ser o Brasil que está lá no pódio. 

Acompanho a bicicleta e um pouco de todas as modalidades de ciclismo praticadas no Brasil e afirmo que estou exausto de ver a coisa desandar. Vi o BMX, o mountain bike, o ciclismo, todos serem destruídos por imbecilidades, mesquinharias, incompetência, e pelo que me contaram, má fé. O que quer que tenha acontecido, vi o ciclismo brasileiro ser jogado no lixo mais de uma vez. Deprimente!
Eu soltei o texto e pensei mais um pouco: "Arturo, deixa de ser sabão!" Eu escrevi para a Bicisport e minha primeira matéria foi sobre a briga que naquele momento, 1988, se não me falha a memória, decretaria o fim do excelente trabalho do Niceu Sato, que comandava a "família BMX". Sim, era coisa de família, no sentido literal da palavra. Em 1991 vi o mountain bike que havia nascido bem, ia de vento em popa crescendo sem parar, ser trucidado pelo mesmo pessoal. Pelo que ouvia na época o ciclismo teve os mesmos problemas e andava muito. Nomes? Está na Bicisport, por favor leiam. Fato é que um grupelho, que por sinal patrocinava o esporte, queria ter plenos poderes em tudo e conseguiu de maneira não simpática nem agradável, com resultados péssimos em todos sentidos. BMX e mountain bike demoraram para se recuperar, o ciclismo demorou mais ainda. O que aconteceu de bom depois foi muito mais fruto de abnegados e amantes do esporte, que persistiram mesmo num ambiente para lá de pesado e contra-produtivo.  O que o povão lembra e fala é do nome do patrocinador, o mesmo que mandava e desmandava com mão pesada e arrebentou com tudo. 

A definição do que é o ciclismo no Brasil? Simples, o Brasil tem algo em torno de 30 milhões de cidadãos pedalando no dia a dia, e não conseguimos ter um representante nacional nas grandes provas europeias. Precisa dizer mais? 
Exclusividade do ciclismo? Emerson, Piquet e Senna ganharam 8 Campeonatos Mundiais de Piloto da F1 em 21 anos. Depois vieram Barrichello e Massa, dentre outros pilotos ótimos. E agora não temos representante na F1? Por que será?
A falta de apoio no Brasil aos esportes é uma vergonha! 

A última maluquice no ciclismo nacional vem acontecendo com Henrique Avancini, que só tem três títulos mundiais no mountain bike, nada mais. Mais, a UCI, União Internacional de Ciclismo, lhe deu o título de Embaixador do Mountain Bike Mundial. Mais uma vez, como tantas outras, com tanta infeliz frequência, não se respeitou nada nem ninguém. Infelizmente para alguns parece que Avancini é um bosta. Deprimente!

O deprimente é que toda vez que um esporte no Brasil vai bem acaba trucidado por interesses mesquinhos, não raro criminais, como diz a grande imprensa. 
Começo e termino minha crítica pelo dito "esporte nacional", o futebol, o mesmo dos 7X1 e dos resultados impensáveis que estamos tendo ultimamente. Não vou me alongar para falar dos problemas financeiros (problemas financeiros?) que destroem times, os mais tradicionais, dentre outros "pequenos" detalhes. 

Aliás, falei de futebol, falei tudo. O resto não existe, o resto é resto. Que resto? Os outros esportes, todos outros esportes, todos que não são divulgados, que não são lembrados, que na realidade só existem quando algum maluco sobe ao pódio e aí vira "Brasil". Os de ponta entendem quando os chamo de "malucos", porque só sendo maluco é que se aguenta o que temos no esporte brasileiro.
Até pouco tempo o esporte olímpico com mais medalhas era a vela. O que vai acontecer com ela quando acabar esta geração de dirigentes e esportistas vitoriosos? 
 
Minha querida prima Thereza diz que "amor emburrecer". Sem dúvida, mas êta burrice deliciosa que é o esporte. Nós, os sérios, amamos o esporte. Mas como tem gente que suga do esporte, opa! como tem! E se aceita com silêncio.

Conheço um monte de campeões e com eles aprendi muito sobre a vida, sobre como encontrar um caminho e chegar a bons resultados, no esporte, para a vida.

Rubens Barrichello, o homem que citei no começo é Rubens Barrichello. Tenho visto uma série de entrevistas dele no YouTube e estou muito impressionado com o homem, o ser humano Rubens Barrichello, a maturidade de seu valores, sua dignidade. 
Mesmo antes de ver suas entrevistas, sempre achei que Rubens Barrichello é uma melhor referencia para o Brasil que o Airton Senna. Senna foi um esportista completamente fora da curva, excepcional,  fazia mágicas, coisas que o pessoal tem dificuldade de entender até agora. Senna não serve como referência para os simples mortais porque era único, diferenciado. Como Pelé, o Atleta do Século, acabou, não vai ter outro. São pessoas muito especiais que devem admiradas, mas não como referência. 

Rubens Barrichello é um lutador, um trabalhador excepcional, um exemplo para todo brasileiro. "O que falta no Brasil é união" é a mais pura verdade. No esporte então...  



domingo, 10 de março de 2024

Mercado de bicicleta implodiu?

Tenho vários amigos que são donos de bicicletarias. Para eles e para os que me perguntam por que não sou dono de uma, respondo na lata:
- Sou completamente louco, mas não sou dono de bicicletaria. 
A maioria destes amigos repete a minha resposta quando me vê rindo da própria situação. Mercado de bicicleta é um dos negócios mais difíceis que alguém pode se meter. Melhorou muito, é muito mais organizado, profissional, mesmo assim é dificílimo, uma loucura para poucos (sobreviventes).

Eu sabia que o setor de bicicletas está passando por uma fase muito difícil, mas não imaginava que o buraco fosse tão embaixo como diz um artigo da Bike Magazine. 

Ano passado o UBS, um dos maiores bancos do planeta, soltou uma análise sobre o futuro dos transportes no mundo nos próximos 10 anos e para meu espanto (ou não) bicicleta e ônibus aparecem com investimento praticamente zero. 

A aposta e ou a sobrevivência do setor vem sem sendo jogada no lucro das bicicletas caras, de elite. Fiquei embasbacado em Mossoró quando entrei numa bicicletaria de luxo, e mais embasbacado ainda quando me disseram que as vendas pelo interior, leia-se sertão, iam de sol a pino e vento em popa. 
Bicicleta cara, uma moda? Gostaria que não fosse, mas no meio do dinheiro farto tudo é meio fugaz. Se fosse meio fulgaz seria ótimo. Duvido que passe disto.

E as bicicletas populares? Por diversas razões estão sendo substituídas por motos. Acredito que uma das razões vem da baixa qualidade das bicicletas populares, as baratinhas, que quebram, quebram, quebram... Melhoraram muito, mas muito mesmo, com a importação generalizada. Para a população de baixa renda moto é mais prática e acaba saindo mais barato também por diversas razões.

Rentabilidade mais estável vem com venda em massa, em grandes quantidades, e lucro apertado por venda realizada. Mercado de luxo é uma outra história, acaba se afunilando e dando espaço para poucos, bem poucos, que ganham muito enquanto produzem o que brilha nos olhos de quem pode pagar. A questão é que um dia chega uma coisa nova, uma marca diferente, alguém diz que é legal, que é o must, novo objeto de desejo, e todo mundo corre para aquele lado. Quantas bicicletarias chiques você viu abrir e fechar nos últimos anos? Quantas marcas de bicicleta eram o must e foram comidas por uma nova que é a bicicleta de uma equipe que está correndo o Tour de France e que até ontem era completamente desconhecida?

O setor de bicicleta tem um novo aliado para as vendas, que é o colapso das cidades. O automóvel não é mais tão vantajoso assim, dependendo da hora e local é uma maldição. "Viva qualquer coisa que me tire desta lata de sardinhas!" Viva a bicicleta? Pode ser, mas tem também o patinete, a scooter, a bicicleta elétrica (que não é uma bicicleta, mas dizem que é)...

Apostaram pesado no crescimento de vendas das bicicletas normais na pandemia. Sifu! geral, erro de estratégia grosseiro, falta de leitura de história, falta de referência para entender o que estava acontecendo e que iria acontecer. Houve uma explosão das vendas e de usuários durante a pandemia, mas voltamos ao normal, ao que mais ou menos éramos antes da pandemia.

Deve ter aumentado o número de usuários de bicicleta, dizem e acredito, mas principalmente da bicicleta elétrica (que não é uma bicicleta, mas dizem que é). Dá para falar em aumento porque as boas oficinas estão cheias de trabalho, é o que está sustentando tudo. As vendas já sabia que estavam fracas, pelo menos nas bicicletarias. Estive conversando com alguns gerentes da Decathlon e eles estão felizes. Por que? Preço x qualidade x facilidade de pagamento, e a meu ver mais um pequeno detalhe: bom atendimento.  

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Consertar ou fazer manutenção, tudo demanda ordem.

Quem já teve a grata experiência de ver os mecânicos de Fórmula 1 trabalhando nos boxes tem uma referência preciosa de como se deve fazer mecânica, manutenção ou consertos. Vale para tudo, inclusive para bicicletas.
  • olha o problema com calma
  • analisa e avalia o que deve ser feito
  • define o ambiente para fazer o serviço: bicicleta fixa com espaço para sua movimentação
  • espaço apropriado para as ferramentas e peças e completamente limpo para o serviço 
  • separa as ferramentas e reparos necessários
  • coloca eles a mão e próximos ao que deve ser consertado ou reparado
  • posiciona tudo em ordem que será usado: primeiro esta ferramenta, depois aquela...
  • pegou, usou, devolveu para o mesmo lugar que estava antes
  • soltou algum parafuso ou peça, coloca separado e em ordem de desmontagem
  • caso necessário, tenha vasilhames para depositar parafusos, porcas, arruelas e peças pequenas
  • limpe o que for necessário longe das ferramentas e outras peças 
  • ferramenta sujou, limpa antes de reusar
  • antes de fechar, dê uma última olhada para ver se está tudo certo
  • fechado, terminado, testa ainda onde foi feita a manutenção
  • Na F1 eles fazem um shake down, ou teste em condição real para ver se está certo.
  • limpe todas as ferramentas antes de voltar a bancada ou caixa de ferramentas
  • tudo guardado olhe para ver se não ficou nada fora do lugar
  • limpe tudo. 
Tive a oportunidade de ver alguns dos melhores mecânicos de bicicleta deste país trabalhando e posso dizer que os procedimentos são muito próximos ao que descrevo acima, padrão F1, que deve ter como base o padrão mecânica da aviação aeroespacial, sim aeroespacial. 

Mesmo num conserto de furo de pneu no meio do nada é bom que se siga algumas regras: colocar tudo em ordem e a mão num ambiente o mais limpo possível, e se disciplinar para o 'pegou, voltou para o mesmo lugar'. Que nunca nada saia de sua vista. Desmonte e monte com muito cuidado para que todas as peças continuem na sua mão, ou bem guardadas no chão, longe dos pés, de preferência.

Estas dicas valem só para serviços? Não. Decidi escrever este texto porque perdi, ou esqueci, meu boné num café. Tenho um problema com atenção e aprendi a me disciplinar para evitar estes erros, que mesmo assim acontecem. Fiz tudo correto, mas esqueci de prender ele na minha mochila. Tomei o café com a mochila em cima do boné, que é tão preto quanto o estofado. Resultado: acabou ficando lá. Para meus pulos de alegria eu me lembrei de onde poderia estar e o pessoal do café foi gentil e guardou.

É lógico que algumas vezes a gente faz besteiras por puro cansaço. Um dia destes, bem atrasado, saindo correndo, nem a pau encontrava a chave das portas. Quase fiquei louco. Controlei o desespero, parei, repassei todos passos antes de estar pronto para sair (?) e depois de ter feito passo a passo tudo, já convencido que estava preso em casa e perderia o dentista, lembrei que tinha tomado um copo de água. Abri a geladeira e lá estava a chave junto com a garrafa d'água. 

Ter disciplina diária nas ações mais triviais é um exercício para evitar pequenos erros enlouquecedores. 
Vale lembrar um dos princípios do Budismo: Não existe liberdade sem disciplina. Pura verdade.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Clipe ou pedal plataforma?

Quanto dá a diferença de rendimento pedalando com clipe ou com um pedal plataforma? Alguma coisa em torno de 3%, isto com ciclistas profissionais pedalando. No meio de ciclistas amadores bem menos. Quem diz isto? Respeitados sites europeus especializados que fizeram testes comparativos usando tecnologia de ponta para medir os resultados. Os próprios testadores iniciaram seus trabalhos com nariz torcido para o pedal plataforma, e no final confessaram que erraram.

A comparação foi feita entre um bom pedal clipe e um pedal plataforma com pinos que mantem a posição de apoio do pé. Qualquer combinação de pedal com calçado que escorregue definitivamente não é recomendável.  

Quando a moda de pedalar estourou e o pessoal foi atrás de assessoria, ouvi muito de todos lados sobre a importância de se pedalar com sapatilha e clipe, mesmo quando o ciclista era novato, sem experiência ou idoso. Em contraponto, por um bom tempo não pararam as histórias de ciclistas que se machucaram por estarem com os pés travados no pedal. E os tombos continuam por ai. 
Cansei de discutir, e depois de algumas conversas tortas simplesmente desisti de dar murro em ponta de faca. Quer ficar travado no pedal para tomar tombos idiotas, quando não dramáticos, não é problema meu. Divirta-se!

A alegação de todos, até hoje, é que melhora muito a qualidade do pedal e dá mais segurança. Não é porque o ciclista está conectado intimamente com a bicicleta que ele pedala melhor e estará mais seguro. Pedalar melhor é conhecer e aplicar as técnicas básicas corretas, incluindo aí o respeito ao próximo, essencial. Ciclismo é a arte da suavidade. Só é seguro quem não comete erros e pensa corretamente.    

O número de tombos relatados na hora de parar a bicicleta sempre foi e continua sendo grande. Num destes tombos, parado, um ciclista amigo fraturou a cabeça do fêmur, simples assim. Conheço histórias de fratura de pulso, ombro, rótula... todos porque o clipe não soltou. 
Com um outro amigo, na chuva, ele perdeu aderência, a bicicleta voou longe travada numa das sapatilhas causando uma grave distensão muscular. Não foi o único.
As histórias não param, todo mundo já ouviu, e mesmo assim iniciantes são levados a acreditar que pedalar de sapatilha é mais seguro. Se não for assim, como vão vender sapatilhas e pedais de clipe tão preciosos. Você acredita mesmo que o pessoal está preocupado com a segurança do comprador?       

"O rendimento é melhor porque consigo puxar o pedal para cima..." Mesmo antes de aparecerem estes testes no YouTube já tinha ouvido de monte de ciclistas profissionais que não é bem assim, que puxar para cima não é fácil e muito menos para qualquer um. São pouquíssimos os ciclistas que conseguem dar o giro completo, aplicando força nos 360º. Aliás, mesmo que consigam puxar, a força que temos para puxar com a musculatura posterior da perna é muito menor que a de empurrar para baixo, que além de uma musculatura mais habituada, porque tem que sustentar o peso do corpo, o empurrar para baixo conta com o peso das pernas. 
A quase totalidade dos ciclistas só põe força, só faz valer a pedalada, quando empurra para baixo o pedal, ponto final. Inclua aí a maioria dos ciclistas profissionais, como dizem especialistas. 

Não me lembro quem me ensinou a fazer um giro mais redondo sem firma pé e clipe, mas deve ter sido um ex BMX. E dá para girar redondo com um pedal plataforma, basicamente uma técnica de BMX. Vai colocar força no pedal nos 360º? Não, mas quase, talvez uns 240º, o que faz toda diferença.

Quem quer que tenha me ensinado a técnica fina de pedalar com pedal plataforma, que não me lembro mais quem foi, me pediu para subir a cadência o máximo possível até que começasse a pular no selim. Pulou no selim, diminui o giro até o movimento ficar só nas pernas. É um giro muito rápido. Precisa treinar aos poucos, em tiros curtos, porque é exaustivo. Dá um tiro curto, acelera o máximo o giro, sem pulo ou pé escapando do pedal. Com o tempo o corpo vai aprender como fazer o movimento e pedalar vai se aproximar de 240º de força, ou de empurrar, como queira. O giro vai passar a ser suave, mesmo quando voltar a sua cadência normal. 

Quando o pedalar ficar redondo, correto, suave, o som do contato do pneu no asfalto fica contínuo. Presta atenção quando estiver pedalando normal, ou só empurrando o pedal para baixo, vai perceber que o som  é quebrado, tipo vrumm... vrumm... vrumm.. vrumm...

Outra forma de ver se o pedalar está limpo, uniforme, é soltar a mão do guidão e olhar para o guidão. Enquanto o pedalar está no empurra empurra para baixo o guidão vai fazer um zig-zag. Quando o pedal gira limpo e suave o guidão não se mexe, segue reto em frente.

Vendo alguns destes testes comparativos entre clipe e plataforma, acabei descobrindo que ciclista de montanha essencialmente empurra o pedal para baixo. Giro mais completo é mais funcional no plano ou descidas, e para a maioria dos ciclistas só durante um curto tempo. É claro que os melhores ciclistas devem despejar força no pedal muito mais uniforme que a gente, mas eles são profissionais e nós simples mortais. Para nós, simples mortais, o importante é segurança para o prazer não acabar mal. Nada como voltar para casa inteiro e entrar num chuveiro. 

O que não tenho a mais remota dúvida é que, dependendo do ciclista e para que ele usa a bicicleta, sapatilha de clipe presa no pedal não é recomendável. Os inúmeros acidentes que o digam.
Fato é que moda não costuma combinar com segurança. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Pneu na lona

O Levorin Praieiro chegou na lona, acabou.

Sempre quis rodar, rodar, rodar, até chegar na lona de um pneu. Nunca consegui porque antes dos pneus chegarem na lona a borracha ou a banda começavam a rachar e ou abrir de velho. 
Já escrevi sobre o Levorin Praieiro, que talvez tenha sido um dos pneus mais... problemáticos... que já usei, ... pode ser. Prefiro dizer que é o mais simbólico sobre como ainda é entendida a qualidade pelo povo deste Brasil de 2023. A definição da compra ainda é pelo menor preço, não importa a qualidade e a durabilidade que vá ter, ou seja o custo final do seu uso.

A maioria dos pneus que usei e continuo usando em minhas bicicletas foram e são ou importados ou Pirelli, que também são exportados, ou seja, atendem aos quesitos do mercado internacional. Eram concorrentes da Levorin, não diretamente, porque havia alguma diferença no preço, sendo os Levorin normalmente mais baratos e populares.

Já tive pneu importado, vindo de um pequeno país do sudeste asiático, estes sim os piores que já vi. Lá pelos anos 90, de sopetão, os grandes fabricantes de bicicleta foram avisados que não teriam pneus nacionais e tiveram que procurar no mercado internacional pneus para suas vendas de fim de ano. A qualidade era um desastre. 
A Levorin pode ter tido seus problemas de qualidade, e não foram poucos, mas nada parecido com estas marcas desconhecidas. A questão do controle de qualidade não foi só da Levorin, mas de todo setor da bicicleta que só queria vender, dane-se o usuário.

A Michelin assumiu a Levorin e a qualidade do Praieiro melhorou muito, mas muito mesmo. Este que está na foto, com a lona aparecendo, durou muito menos que eu esperava, mas comparado aos mais antigos a diferença é grande.

Comprei esta boa bicicleta usada, surrada, que estava com os Praieiros já bem gastos. Sempre quis testá-los, rodei até onde deu com eles e quando não deu mais, por deformação, troquei o par por novos, estes da foto. A diferença para os que vieram com a bicicleta é que ainda foram fabricados pela Levorin, e os novos já eram Levorin / Michelin. A diferença era notável: os novos estavam alinhados, centrados, e permitiam 50 libras de pressão. Os antigos, Levorin, que eu me lembre, eram para 36 libras. 
Fiquei um pouco decepcionado porque mesmo com pressão mais alta que os velhos ainda rodavam pesado, uma diferença bem sensível para qualquer importado, inclusive os concorrentes diretos. Infelizmente não marquei a data de compra para saber exatamente quanto duraram, mas não tenho dúvida que bem menos que os importados. Quando vi que os novos também tinham chegado na lona me assustei, imaginei que na fabricação a lona tinha sido assentada errada, que ainda dava para rodar por mais um bom tempo. Uma hora desmontei o pneu do aro e com o toque dos dedos ficou claro que iriam estourar.  

Estes Levorin Praieiros que acabei de comprar já vem com a marca Michelin numa etiqueta. O povão que pedala reconhece com facilidade a marca Levorin, mas duvido que a maioria dos brasileiros tenha o mesmo reconhecimento de marca para a tradicionalíssima Michelin francesa. 

Montados e rodando, a primeira impressão é que a qualidade da borracha foi melhorada, mas não dá para dizer com certeza se roda melhor mesmo ou é impressão minha. Fato é que roda mais leve com as mesmas 40 libras que os que terminaram na lona, portanto tinham menos borracha e estavam mais leves. Peso faz muita diferença no rodar.

Espero que a Michelin vá aos poucos corrigindo os problemas que a Levorin tinha, o que acredito que venha a acontecer. Michelin não vai se queimar num mercado deste tamanho.

Bom resta algumas perguntas: Se eu entendo que os Praieiros são piores que os importados, por que repetir a compra? Primeiro porque não consegui encontrar um similar importado ou da Pirelli. Encontrar pneu 29 é fácil; achar os 26 1.95 para asfalto não, principalmente em São Paulo e nesta época de Natal e férias. Provavelmente no interior ou nas praias seja mais fácil. Aqui, na capital, só tem para bicicleta chique ou da moda, leia-se 29.
Quero ver / testar como está a evolução dos produtos da Michelin / Levorin, que é para o mercado da população mais pobre. Comprar e usar é a melhor forma. 
Por último, os aros desta bicicleta são nacionais e tem uma pequena diferença no diâmetro para menos. Os importados que tentei montar não paravam no aro quando se dava pressão. Os Praieiros param.

Só agora quando fui fazer esta foto percebi que a marca Michelin não está gravada no pneu, mas que veio estampada na etiqueta de papel que estava presa e que tirei para montar. 
A calibragem é difícil de achar e ler. Está gravada pequenina no adesivo colado ao pneu ao lado do nome Praieiro bem visível. Precisam corrigir.

Talvez o que mais queira em minha vida é parar de reclamar da baixa qualidade. Espero que um dia isto aconteça. O Praiano reflete bem o drama deste país, que começa na fabricação e termina nos compradores que aceitam qualquer coisa em nome do preço mais baixo. Vale a pena? Definitivamente não!  Acredito que a Michelin tenha chegado para corrigir velhos erros.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Atacado por cachorros

O Ciclonauta foi atacado por dois bitbulls e saiu bem ferido na perna, acabou no hospital e ficou um bom tempo de molho. Estive com ele e um bom tempo depois ainda estava com a canela enfaixada. 

Cruzando no pedal o Vale do Anhangabaú vi um cachorro grande e brincalhão que estava mordendo todas pernas de ciclista que passassem por ele por pura brincadeira. Ele não saía em disparada latindo, mas atacava os ciclistas aos pulos de alegria. Não tascava os dentes, só segurava a calça, a canela ou o tênis com delicadeza. Um outro cachorro acompanhava a brincadeira perturbando o atacante. Não escapei de umas dentadinhas, suaves, que me arranharam a perna superficialmente. Passou um outro ciclista no sentido contrário que não parou de pedalar e o figura, o cachorro, achou que a perna em movimento dele era muito mais divertida que a minha sem movimento e me largou. 
Incrível como eles, cachorros, tem controle total sobre as mordidas, indo de um encostar os dentes até o arrancar pedaços. Quem conhece os bichos sabe como eles vão reagir. 

Entrar em pânico só piora qualquer situação. Simplesmente pare de girar os pedais, dica que me foi dada por uma amiga veterinária. Funciona. Parou de movimentar a perna o cachorro normalmente perde o interesse. Não funcionou, o negócio é pular da bicicleta para o lado contrário de onde vem o cachorro e usá-la como anteparo. Melhor com pneu furado a dentadas que perna furada ou rasgada com pontos. Se tiver frieza, não reaja, deixe o cachorro se cansar, se for o caso saia de fininho. Tomou dentada, não puxe a mordida. Puxou, rasgou. Mesmo mordido, fique imóvel, que uma hora ele vai largar, ou vai aparecer alguém para ajudar. 
Duro é quando vem uma matilha para cima. Normalmente tem o cachorro alfa, que identificado pode servir para desarmar ou afastar o resto. 

Dependendo da situação o ataque pode ser divertido. 
Na Bicycling americana li um divertido artigo sobre treinar sprint fugindo de ataque de cachorro. Não é coisa para amadores. Cachorros aceleram mais rápido que a maioria dos ciclistas profissionais, o que dizer dos amadores. Dá para escapar quando se tem uma boa vantagem, do contrário é dentada.
Neste artigo da Bicycling o autor conta que sempre passa pelo mesmo caminho e que sempre foge do mesmo cachorro. Não sei como foi com ele, mas sei que tem cachorro que entende que virou brincadeira. Muitos cachorros são muito inteligentes que a gente pode imaginar.

Tem perseguidor pior que cachorro? Opa! Não enfureça uma vaca, ou outro bicho grande. Ser perseguido por uma vaca parece piada, mas quem experimentou definitivamente não quer repetir.


terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Pontas soltas: perigosas e causa de acidentes graves

Fui ultrapassado por um ciclista com o cadarço do tênis direito desamarrado e imediatamente senti um arrepio de terror. Um dos piores acidentes que um ciclista pode sofrer é o cadarço enroscar no pedivela ou engastalhar entre a corrente e a coroa. Não dá nem tempo para entender o que está acontecendo, em uma fração de segundo você está no chão arrebentado. Em casos mais extremos pé e perna saem lesionados. Mesmo que nada aconteça, o que será muita sorte, o ciclista só vai entender o que aconteceu por que o tênis estará preso à bicicleta. Já passei por esta, tive muita sorte, conheço vários que também passaram, até alguns ciclistas profissionais, e ninguém achou engraçado, muito pelo contrário.

Tênis desamarrado causa acidentes de todo tipo com quem quer que seja. Pedestres são sua maior vítima.  Basta apontar para baixo, para o tênis da pessoa, que o cadarço é amarrado imediatamente. É quase uma regra entre corredores a pé cuidar do cadarço dos outros, um comportamento menos comum entre ciclistas, talvez porque a regra, melhor dizendo, a moda, é usar sapatilhas, que não tem cadarço por razões óbvias.

O correto é amarrar o cadarço, apertar o nó, girar o cadarço e prendê-lo por baixo do próprio cadarço trançado no tênis. Desta forma é muito difícil fique com perigosas pontas balançando ou que desamarre. 

Qualquer ponta solta é um perigo. Um amigo tomou um tombo horroroso pedalando e se machucou todo. Contando em detalhes o acidente levantei a hipótese que a manga do corta-vento tenha enroscado no guidão, o que ele acha que não, mas pela forma como caiu acredito que foi a causa do acidente. Cheguei a conclusão porque sofri um acidente pela mesma causa, lembro de cada fração de tempo do que aconteceu. Percebi imediatamente que minha manga tinha prendido na manopla, e a partir daí tive a certeza que ia parar no chão. A bicicleta entortou para a direita sem que pudesse reagir e meu ombro bateu com força no asfalto. Todo ralado e dolorido aprendi a lição. Por sorte e por calma, consegui me livrar de outros tombos, mas quando a manga ou outra ponta enrosca, o arrepio apavorante toma conta de mim. 
Enrole a manga até ela ficar longe do guidão antes de sair pedalando. O ideal é ter o hábito de recolher toda e qualquer ponta solta antes de começar a pedalar.  

Roupa larga ou casaco amarrado na cintura também podem enroscar na bicicleta, em geral no selim, roda ou pedivela. Repito, qualquer sobra ou ponta solta definitivamente não combina com um pedalar seguro. 
O que não pode, mas não pode mesmo, é pedalar com o que quer que seja meio solto ou balançando no guidão ou próximo da roda da frente. Qualquer problema na roda da frente ou na direção tem tudo para acabar num dos tombos mais brutais que um ciclista pode sofrer. Não experimente!